terça-feira, 10 de novembro de 2009

"O dilema dos transgênicos", Gian Mario Giuliani, fichamento

1. Rápidos avanços no campo da manipulação das componentes fundamentais dos seres vivos tornam os cientistas ainda mais responsáveis pela vida e a saúde da população => os mais importantes laboratórios que fazem pesquisa avançada no campo da bioengenharia sob controle de grandes companhias preocupadas com aplicações tecnológicas => resultados da ciência prospectam possibilidade de altos lucros para empresas que financiam as pesquisas: quem pode assegurar que tais produtos sejam benéficos para os consumidores e o meio ambiente?

2. Produtos transgênicos: benéficos ou perigosos? Apesar de considerar os benefícios da engenharia genética (capacidade de reproduzir a base dos medicamentos através de bactérias ou plantas e de poder transformar produtos convencionais em medicamentos ou realizar o seqüenciamento completo de bactérias que infestam as lavouras), Giuliani (2008), aponta três aspectos de problemas:

(I) em relação à segurança alimentar: não se sabe como funcionam as toxinas e substâncias alergênicas nos produtos modificados nem quais podem ser os efeitos destas a longo prazo e como podem afetar a cadeia alimentar;

(II) com relação ao meio ambiente: não se sabe (a) como é possível controlar a eventual criação imprevista de novas plantas e de plantas daninhas; (b) como é possível controlar a transferência de genes para parentes próximos, de maneira a não poluir outras plantações; (c) como calcular as eventuais perdas em termos de biodiversidade e controlar o desperdício de recursos biológicos; (d) como prever efeitos adversos aos diversos ciclos ecológicos.

(III) com relação aos aspectos socioeconômicos: não se sabe como limitar o poder oligopólico das empresas produtoras de sementes, a concentração de conhecimento, bem como regular a questão da propriedade intelectual e atenuar a competitividade no setor agrícola ou reduzir a fome no mundo.
Europa X EUA

3. Os transgênicos no Brasil: autonomia ou alinhamento? Projeto Genoma, Esalq/USP X leis brasileiras impõe que o cultivo de um produto geneticamente modificado seja efetuado em áreas restritas e, antes de ser liberado para produção, comércio e uso, seja monitorado pela CTNBio e seus consultores durante cinco anos para que se possa avaliar o impacto ambiental que o produto provoca.

4. As polêmicas, os entraves e as disputas no Brasil: além do plano dos debates científicos e institucionais, a luta a favor e contra a introdução dos transgênicos se dá em diferentes níveis: informação, embate político e ação jurídica => dois casos: Rio Grande de Sul e navio carregado de milho transgênico que vinha a Argentina com destino aos criadores de aves pernambucanos.

5. O homem ajuda ou combate a natureza?

6. O que fazer? Questão dos transgênicos como campo de enfrentamento entre duas concepções de ciência: suporte direto das forças produtivas X dever primordial de garantir a melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente => quanto mais se aprofundam os conhecimentos, mais se percebe que a natureza se torna inatingível => reforma de valores:

(I) deixar de pensar que os parâmetros econômicos e o lucro das empresas são fundamentais instrumentos de avaliação de “eficiência”, ao invés da produção de bens e serviços socialmente úteis e utilização inteligente de toda força de trabalho disponível;

(II) deve tornar positivo e hegemônico o “princípio da precaução”: (a) realização de mais pesquisas; (b) controle social do poder que a indústria tem de impor seus produtos; (c) vigilância, eficiência e eficácia do Estado no sentido de assegurar a vida da população; (d) disponibilidade de informações para escolhas conscientes; (e) suspensão da produção e comercialização dos alimentos geneticamente modificados até que se tenha conhecimentos mais sólidos a respeito de seus efeitos sobre a vida dos consumidores, o meio ambiente e a biodiversidade => um problema tão grave quanto a falta de alimentos refere-se à qualidade dos produtos para nossa alimentação. Neste sentido, a batalha contra a manipulação dos alimentos deve ser conduzida para além da preocupação com a saúde, mas também da reapropriação das sensações e dos gostos em via de extinção (Europa X EUA) => experiência também pesa.

REFERÊNCIAS:
COSTA, L.F.C; FLEXOR, G; SANTOS, R. (orgs.) Mundo Rural Brasileiro. Ensaios interdisciplinares Mauad X-EDUR, Rio de Janeiro - Seropédica, 2008.

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