Castells (2009)
traz aportes teóricos importantes para entender as redes de mobilização
política e de poder que se configuram com a internet, tais como o poder
comunicacional, em especial o poder para criar redes baseadas em programadores
e conectores; os processos de autocomunicação de massas, com os quais muitos
emissores-receptores se comunicam com outros muitos emissores-receptores com a
mediação da internet, alargando as possibilidades de comunicação em relação à
mídia; e a ação coletiva em uma sociedade em rede, com especial destaque para
os movimentos de contra-poder.
No que diz
respeito ao entendimento da internet, trago uma tensão entre duas
correntes teóricas, que deixo explícita desde já. De um lado, Manuel Castells
(2003) assinala o surgimento de um novo padrão sociotécnico ao considerar que as
tecnologias da internet constituem uma base material sobre a qual as pessoas se
engajam — e, assim, constroem representações, exercem um trabalho, estabelecem
vínculos com outras pessoas, obtém informações, formam opiniões, atuam
politicamente, concebem sonhos, procuram um emprego ou profissão, entre outros
usos e práticas. De outro, a perspectiva da teoria do ator-rede, desenvolvida
por Bruno Latour (2005), chama atenção para a possibilidade de entender as
mediações sociotécnicas que estão em jogo com a internet. Neste sentido, este
conjunto de tecnologias, práticas e contextos permite estabelecer novas
conexões e associações se forem vistas como participantes da composição de um
coletivo heterogêneo em um mundo comum. A internet pode acelerar, viabilizar ou
facilitar uma ação coletiva, bem como, dependendo da situação, sua ausência
pode atrasar, impedir ou dificultar determinadas mobilizações nas sociedades
contemporâneas. Assim, uma análise da ação coletiva não deve se concentrar em
atores e agentes que agem em contextos específicos, mas nos fluxos contínuos
que mobilizam conjuntos compostos por pessoas e objetos que se inter-relacionam,
formando um ator-rede.
As reflexões de
Castells (2009) permitem vislumbrar uma estrutura em rede, algo como uma matriz
sociotécnica que se conforma a partir das novas tecnologias da informação e
comunicação, em especial com a difusão da internet, cuja influência pode ser
vista como um campo unificado. A teoria do ator-rede chama atenção para as
múltiplas possibilidades de agenciamento e construção de atores que surgem em
função destas tecnologias, mas que não podem ser, necessariamente, tributadas a
uma única matriz, sendo que Latour (2005) propõe seguir as associações,
desvendando os mecanismos de formação dos grupos e buscando apreender a
emergência de um conjunto heterogêneo de processos de agenciamento, que
envolvem não apenas os humanos, mas também objetos materiais que passam a se
constituir, também, como agentes, notadamente no ambiente gerado pelo intenso
desenvolvimento científico e tecnológico a partir da segunda metade do século
XX.
Nenhum comentário:
Postar um comentário