Em função de
seus usos e práticas em várias áreas da vida humana, a internet representa uma
fértil novidade para o campo da pesquisa sociológica. Na minha pesquisa
de doutorado, volto-me para aspectos relacionados com as implicações
políticas associadas com a internet, procurando compreender se estas
tecnologias, práticas e contextos trouxeram novos aportes para formas de ação
coletiva tais como formas de mobilização, ações de protesto, bem como para a
ação de organizações, tais como os chamados “movimentos sociais”.
Minha intenção é
entender como os grupos agem coletivamente com a internet,
ou seja, como as tecnologias da internet se associam com as práticas de agentes
em contextos específicos, compondo novas configurações e reconfigurações de formas
de ação coletiva, que proporcionam novos tipos de participação e o surgimento
de novas organizações e maneiras de se organizar, bem como reconfigurando as
que existiam.
Sob a influência da teoria do ator-rede (LATOUR, 2005) entendo que
os grupos agem coletivamente com a
internet, ou seja, que as tecnologias da internet podem ser vistas como
participantes dos cursos de ação, na medida em que fazem a diferença na
composição de coletivos heterogêneos, na medida em que algumas ações não se
concretizariam sem a internet. Logo, não se trata de agir na internet, através da internet
ou pela internet, em especial quando
compreendo a internet como um conjunto de numerosas tecnologias, práticas e
contextos (MILLER & SLATER, 2000).
Para tanto, como
ponto de partida teórico, caracterizo as redes transnacionais de defesa de direitos
(KECK & SIKKINK, 1998), procurando articular as noções de sociedade civil e
ação coletiva (ALEXANDER, 1998; COHEN & ARATO, 2000) e apresentar mudanças
na esfera pública, que Costa (2003) relaciona com o fenômeno da globalização e a
proliferação de redes transnacionais de mobilização política. Além disso, destaco
noções como os quadros de significação
(SNOW & BENFORD, 1992) e os repertórios de ação coletiva (TILLY, 1995).
Os atores
sociais contemporâneos parecem contar com uma ampliação das possibilidades para
agir coletivamente mediante o acesso, ainda que desigual,
e uso das tecnologias da internet, que não estavam disponíveis nas
configurações dos repertórios de ação coletiva entre o início do século XIX e
anos 1990. Assim, buscamos contribuir para o entendimento do papel das
mobilizações políticas com a internet nas formas de ação coletiva que se
configuram nas sociedades contemporâneas.
Neste sentido, cabe
destacar a emergência de uma esfera pública em rede com o advento da internet e o
surgimento de uma economia informacional em rede, que tanto pode ser vista como
uma alternativa dialógica aos meios de comunicação de massa (BENKLER, 2006),
quanto como um elemento num complexo processo de imbricamento com oligopólios
de mídia convencional, configurando uma esfera pública global (CASTELLS, 2009).
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