segunda-feira, 18 de junho de 2012

Fragmentos tecnológicos na ação política #2


Em função de seus usos e práticas em várias áreas da vida humana, a internet representa uma fértil novidade para o campo da pesquisa sociológica. Na minha pesquisa de doutorado, volto-me para aspectos relacionados com as implicações políticas associadas com a internet, procurando compreender se estas tecnologias, práticas e contextos trouxeram novos aportes para formas de ação coletiva tais como formas de mobilização, ações de protesto, bem como para a ação de organizações, tais como os chamados “movimentos sociais”.
Minha intenção é entender como os grupos agem coletivamente com a internet, ou seja, como as tecnologias da internet se associam com as práticas de agentes em contextos específicos, compondo novas configurações e reconfigurações de formas de ação coletiva, que proporcionam novos tipos de participação e o surgimento de novas organizações e maneiras de se organizar, bem como reconfigurando as que existiam. 
Sob a influência da teoria do ator-rede (LATOUR, 2005) entendo que os grupos agem coletivamente com a internet, ou seja, que as tecnologias da internet podem ser vistas como participantes dos cursos de ação, na medida em que fazem a diferença na composição de coletivos heterogêneos, na medida em que algumas ações não se concretizariam sem a internet. Logo, não se trata de agir na internet, através da internet ou pela internet, em especial quando compreendo a internet como um conjunto de numerosas tecnologias, práticas e contextos (MILLER & SLATER, 2000).
Para tanto, como ponto de partida teórico, caracterizo as redes transnacionais de defesa de direitos (KECK & SIKKINK, 1998), procurando articular as noções de sociedade civil e ação coletiva (ALEXANDER, 1998; COHEN & ARATO, 2000) e apresentar mudanças na esfera pública, que Costa (2003) relaciona com o fenômeno da globalização e a proliferação de redes transnacionais de mobilização política. Além disso, destaco noções como os quadros de significação (SNOW & BENFORD, 1992) e os repertórios de ação coletiva (TILLY, 1995).
Os atores sociais contemporâneos parecem contar com uma ampliação das possibilidades para agir coletivamente mediante o acesso, ainda que desigual, e uso das tecnologias da internet, que não estavam disponíveis nas configurações dos repertórios de ação coletiva entre o início do século XIX e anos 1990. Assim, buscamos contribuir para o entendimento do papel das mobilizações políticas com a internet nas formas de ação coletiva que se configuram nas sociedades contemporâneas.
Neste sentido, cabe destacar a emergência de uma esfera pública em rede com o advento da internet e o surgimento de uma economia informacional em rede, que tanto pode ser vista como uma alternativa dialógica aos meios de comunicação de massa (BENKLER, 2006), quanto como um elemento num complexo processo de imbricamento com oligopólios de mídia convencional, configurando uma esfera pública global (CASTELLS, 2009).

Nenhum comentário: