segunda-feira, 18 de junho de 2012

Fragmentos orgânicos #2


Como parte integrante de um contexto de transição global, o campo de debates e práticas sobre o meio ambiente também apresentou mudanças significativas, entre elas o deslocamento da percepção acerca dos impactos no meio ambiente global no âmbito do pensamento ambientalista internacional. Portilho (2005, p. 16) entende como pensamento ambientalista internacional “aquele produzido pelos meios institucionalizados e legitimados socialmente, compostos pelos setores estatais dos países centrais, pelas instituições intergovernamentais, pelos setores empresariais e pelas grandes ONGs que circulam nesse meio”.
Nos anos 1970 e 1980, a ênfase da luta contra o agravamento dos problemas ambientais estava hegemonicamente voltada para os processos da produção industrial capitalista. A partir dos anos 1990, Portilho (2005) assinala a emergência e proeminência das percepções sobre a contribuição dos impactos ambientais dos elevados padrões e níveis de consumo das sociedades contemporâneas para o agravamento destes problemas.
Este deslocamento pode ser observado, por exemplo, na medida em que os Estados-Nação, as empresas, os meios de comunicação, as organizações não-governamentais — ONGs e os movimentos sociais passam a usar termos que remetem à responsabilidade socioambiental das práticas de consumo, tais como consumo verde, sustentável, consciente e responsável, entre outros. O documento Agenda 21 constitui um exemplo deste deslocamento ao considerar que “as principais causas da deterioração ininterrupta do meio ambiente mundial são os padrões insustentáveis de consumo e produção, especialmente nos países industrializados. Motivo de séria preocupação, tais padrões de consumo e produção provocam o agravamento da pobreza e dos desequilíbrios” (CONFERÊNCIA das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1997, p. 39). No Brasil, este fenômeno passa a ocorrer com maior intensidade durante os anos 1990, mais especificamente após a realização da RIO92.
Os problemas socioambientais se agravaram, assumindo uma dimensão cada vez mais global, e passaram a ser usualmente designados pela expressão “crise ambiental”. Atualmente, os padrões insustentáveis de consumo, tanto individuais quanto institucionais, constituem uma das causas centrais desta crise no âmbito do pensamento ambientalista internacional. No entanto, para além do cenário institucional, os indivíduos também são cobrados e estimulados a adotar práticas que reflitam uma auto-atribuição de responsabilidades socioambientais na vida cotidiana.


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