Como parte integrante de um contexto de transição
global, o campo de debates e práticas sobre o meio ambiente também apresentou
mudanças significativas, entre elas o deslocamento da percepção acerca dos
impactos no meio ambiente global no âmbito do pensamento ambientalista
internacional. Portilho (2005, p. 16) entende como pensamento ambientalista
internacional “aquele produzido pelos meios institucionalizados e legitimados
socialmente, compostos pelos setores estatais dos países centrais, pelas
instituições intergovernamentais, pelos setores empresariais e pelas grandes
ONGs que circulam nesse meio”.
Nos anos 1970 e 1980, a
ênfase da luta contra o agravamento dos problemas ambientais estava hegemonicamente
voltada para os processos da produção industrial capitalista. A partir dos anos
1990, Portilho (2005) assinala a emergência e proeminência das percepções sobre
a contribuição dos impactos ambientais dos elevados padrões e níveis de consumo
das sociedades contemporâneas para o agravamento destes problemas.
Este
deslocamento pode ser observado, por exemplo, na medida em que os
Estados-Nação, as empresas, os meios de comunicação, as organizações não-governamentais
— ONGs e os movimentos sociais passam a usar termos que remetem à responsabilidade
socioambiental das práticas de consumo, tais como consumo verde, sustentável,
consciente e responsável, entre outros.
O documento Agenda 21 constitui um exemplo deste deslocamento ao considerar que
“as principais causas da deterioração ininterrupta do meio ambiente mundial são
os padrões insustentáveis de consumo e produção, especialmente nos países
industrializados. Motivo de séria preocupação, tais padrões de consumo e
produção provocam o agravamento da pobreza e dos desequilíbrios” (CONFERÊNCIA
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1997, p. 39). No Brasil, este fenômeno passa a ocorrer com maior
intensidade durante os anos 1990, mais especificamente após a realização da
RIO92.
Os problemas socioambientais se agravaram, assumindo uma
dimensão cada vez mais global, e passaram a ser usualmente designados pela
expressão “crise ambiental”. Atualmente, os padrões insustentáveis de consumo,
tanto individuais quanto institucionais, constituem uma das causas centrais desta
crise no âmbito do pensamento ambientalista internacional. No entanto, para
além do cenário institucional, os indivíduos também são cobrados e estimulados
a adotar práticas que reflitam uma auto-atribuição de responsabilidades
socioambientais na vida cotidiana.
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