As questões socioambientais podem ser entendidas como
um conjunto de fatores e variáveis existentes na interface entre sociedade e
natureza, abrangendo aspectos biológicos, éticos, estéticos, territoriais,
políticos, sociais, culturais, econômicos e axiológicos (PORTILHO, 2005). A
partir da década de 1990, estas questões começaram a receber uma atenção
crescente no debate internacional contemporâneo sobre globalização em um
período de acentuada mudança social e paradigmática.
Neste período, transformações sociais dramáticas ocorreram
no espaço-tempo, configurando uma nova convergência do pensamento histórico e
social. Um exemplo é a “inesperada” transição do comunismo para o capitalismo
na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas — URSS e Leste Europeu, entre o
fim dos anos 1980 e início dos anos 1990. Alexander (1995) entende que esta
mudança tornou anacrônicas as explicações sobre as questões emergentes das
sociedades contemporâneas desenvolvidas por cientistas sociais referenciados única
e exclusivamente na clássica abordagem teórica de superação do capitalismo
proposta e desejada por Karl Marx.
Para além da crítica à teoria marxista, Beck (2002)
entende que estas questões não podem mais ser analisadas e explicadas por
qualquer perspectiva teórica que se limite apenas aos “clássicos” das ciências
sociais. Por isso, a intensificação da racionalização prevista por Max Weber ou
a diferenciação funcional vislumbrada por Émile Durkheim também não são
referências capazes de entender a contento este novo mundo.
Neste
sentido, as dinâmicas de liberdade política, cidadania e sociedade civil configuram
um vetor analítico que permite explicar o perecimento de certezas tradicionais e
sua substituição por um individualismo legalmente sancionado “para todos”. Beck
(2002) assinala uma mudança paradigmática rumo à modernização reflexiva em uma
sociedade de risco global caracterizada por perigos e riscos. Este momento de
transição para uma segunda modernidade de múltiplas modernidades configura uma
espécie de pano de fundo, que esta dissertação considera como um contexto
global em que as sociedades contemporâneas estão inseridas.
A primeira
modernidade — simples, linear e industrial — era baseada nos Estados-Nação. As
relações, redes sociais e comunidades se desenvolviam territorialmente. Suas pautas
coletivas de vida se relacionavam com as idéias de progresso e controle, pleno
emprego e exploração da natureza. No entanto, a mudança de paradigmas da
modernidade conforma uma segunda modernidade baseada em processos
inter-relacionados de globalização, individualização, “revolução” dos gêneros,
subemprego e riscos globais, entre os quais a crise ambiental e o colapso
global dos mercados financeiros. Nesta segunda modernidade, os desafios
teóricos e políticos das sociedades contemporâneas se resumem a responder, simultaneamente,
a estes processos, que Beck (2002) entende como conseqüências imprevistas da vitória
da primeira modernização.
Esta
segunda modernidade também pode ser definida como uma “alta modernidade” —
aberta, contingente e mediada pela noção de risco. É deste modo que Giddens
(1991) entende as experiências cotidianas dos sujeitos como formas de mudanças
e adaptações frente a processos de invasão, ajustamento e reajustamento em um
mundo cada vez mais globalizado. Com isso, as práticas dos agentes sociais
passam a ser examinadas e reformuladas por informações renovadas sobre elas mesmas,
provocando uma alteração de seu caráter.
(continua)
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