terça-feira, 1 de dezembro de 2009

E eu nem gosto de panetone...

As reações à descoberta de um político que é pego com a "boca na botija", como é o caso do governador do DF, José Roberto Arruda (DEM), são cada vez mais previsíveis, variando do "não sei da nada", imortalizado pelo presidente Lula, até o "nego até o fim", mais batido. Arruda ainda tem um precedente, do caso de violação do painel do Senado... e voltou...

Está para ser eleito o político que, quando for pego com a "boca na botija", diga "fui eu sim, fiz sim!". Isso seria um avanço surpreendente!

Muita gente fala da passividade do brasileiro. Se as pessoas não acreditam mais nas instituições políticas estabelecidas, não se sentem passivos nem idiotas. No caso brasileiro, o voto passou a ser um elemento desmobilizador, na medida em que não importa mais quem seja eleito porque o padrão está enraizado. Hirschman (1983) destacou a função perniciosa do voto em regimes democráticos, nos quais mais que democratizar, desmobiliza.

Ao apontar o papel desmobilizador do voto não sugiro qualquer espécie de autoritarismo, mas, ao contrário, a ampliação dos mecanismos democráticos participativos! Ou seja, que as decisões importantes não sejam tomadas de 4 em 4 anos, mas que aconteça uma reaproximação da população na tomada de decisões!

Com o voto não se muda o padrão tecnocrático e distanciado de configuração das políticas publicas e destinação de verbas! O voto se transformou em um instrumento legitimador da falcatrua política. Infelizmente somos levados a crer que é o elemento fundamental da democracia...

Isso não quer dizer que a política morreu. As políticas estão aí, para quem quiser enxergar, em campos diversos da vida social, como no cotidiano!

Uma amiga grita: NÓS TODOS PRECISAMOS MUDAR!

Mas as pessoas mudam: hoje em dia, a esperança de que a mudança institucional resolverá os problemas é muito menor que no início da década de 80! Até que ponto não temos, como Alexander (1995) propõe, uma transição na ação política: dos movimentos radicais-coletivistas para ações romântico-individualistas?

O desafio, a meu ver, é transcender esta "nova" forma de ação política em uma esfera pública renovada com valores diferenciados dos atuais. Entretanto, como fazer esta passagem privado --> público? Mais ainda, como manter aquecido o debate público e as ação coletivas, rompendo com o padrão espasmódico dos protestos na sociedades ocidentais contemporâneas?

Os jovens de hoje não acreditam na política institucional do jeito que talvez "nossos pais" acreditavam... Eu cresci no meio da mudança, sou de 1976...

Aliás, nunca é demais ressaltar que enquanto permanecer a hegemonia machista, homofóbica e racista fica muito complicado e difícil pensar em democracia. Detalhe: essa hegemonia se reflete em cada um de nós! Não é a primazia do indivíduo, até porque não existe indivíduo (fora da racionalidade moderna ocidental...), mas redes de conhecimentos, saberes e subjetividades.

Precisamos quebrar a idéia de indivíduo e deflagar a unimultiplicidade. É outra ruptura necessária, antes de sermos um, somos redes diversas em um...

Um mea culpa: enquanto continuarmos a imputar indolência aos outros, sem assumir que nós, intelectuais, formamos essa indolência nos gabinetes de pesquisa, nada muda, além de estarmos contribuindo para a perpetuação e reforço destes valores atualmente hegemônicos... fica bem complicado de mudar para melhor.

Desta forma, assumir o descrédito das instituições modernas é o primeiro passo na procura de outros mecanismos de governar, produzir conhecimento...

Neste sentido, a Internet é uma possibilidade de ruptura, mesmo com todos os mecanismos de controle já desenvolvidos, ainda é uma saída, pois entendo que não existe um panóptico para além da teoria de Michel Foucault na medida em que existem brechas quando olhamos o mundo que tende ao panóptico...

Vejo que nos resta identificar e aproveitar estas brechas. Uma delas é a internet e o diálogo na rede mostra isso...

"Já não me preocupo se eu não sei porque, às vezes o que eu vejo quase ninguém vê, eu sei que você sabe quase sem querer, que eu vejo o mesmo que você", já cantava Renato Russo com sua (eterna) Legião Urbana.

Vamos seguir e viver!

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