Acompanhei o desenrolar desta COP-15 pelo Twitter e confesso que desde que soube dessa conferência sobre meio ambiente que reuniu os chefes de estado não acreditei que tinha pinta de servir para alguma coisa de bom (entendendo “bom” como juízo de valor para um avanço no combate ao agravamento da crise ambiental, colocada nos termos vagos de sempre...).
Afinal, reunir os chefes de estado de todo mundo em Coppenhagen (é assim que escreve?) durante duas semanas não levou, não leva e não levará a qualquer avanço concreto na questão ambiental. Aliás, em qualquer local que se realize algo do tipo ao menos reforçará as possibilidades de protesto coletivo em tempos de globalização.
O protesto fora da conferência é o que há de melhor, pois o que se “realiza” dentro é nada mais que um belo(?) exercício de representação, um teatro calculado milimetricamente...
Para quem gosta deste tipo de teatro pernicioso, simula-se até uma frustração pela incapacidade de dar conta dos assuntos que o evento dizia se propor (sim, “dizia”, pois com o tempo eu vou deixando de bater palma pra maluco sambar...).
Isso me mostra, mais uma vez, como estão (ou seriam?) decadentes as instituições modernas e a necessidade que se coloca em torno de novos formatos de negociação e diálogo para as emergentes questões globais como a idéia abstrata de crise ambiental.
Quero dizer, com isso, que o modelo de diálogo transnacional ainda está muito longe de configurar um ponto para se chegar a um consenso. Afinal, se o mundo mudou, porque as formas de negociação permanecem as mesmas? Será que ainda teremos mais 10 ou 15 anos para uma nova rodada de fracassos?
Acredito na importância do diálogo transnacional, mas não de forma espasmódica como acontece desde a década de 1970, em Estocolmo (aliás, é vizinha da capital dinamarquesa...), passando pela RIO92’, muito menos em encontros curtos envolvendo mais de 150 perspectivas diferentes como nessa COP-15.
Fica parecendo difícil desde o início não?
Como se sabe que nada se resolverá, além de uma diretriz vaga e geral, nenhum chefe de estado vai acenar com o que pode de fato fazer e se comprometer (aliás, vai se comprometer representando quem, se não houve discussão no seu país?).
Mas isso já estava vislumbrado em várias análises que foram taxadas de pessimistas...
Ora, surpresa seria algo conduzido desta forma dar certo, ou seja, produzir resoluções de alcance global (e que fossem cumpridas pelos países que a assinassem, não como o Protocolo de Kioto, uma fraude...).
Por que não tornar a discussão em torno da crise ambiental permanente, com encontros freqüentes (do tipo trimestral ou semestral no âmbito global)? Será que o problema não é tão grave quanto nos passam? (Afinal, se os riscos são graves, inadiáveis porque os encontros não são permanentes?)
Por que, estabelecida esta freqüência, não envolver as diversas e diferentes sociedades civis dos estados nacionais (que, mesmo com globalização, ainda persistem e, em certos casos, se fortalecem), aprofundando cada tópico e conseguindo assim posições mais próximas do que cada país pode propor?
Fico pensando aqui no caso brasileiro...
Se as leis que nossos legisladores criam, não “pegam”... Imaginem a dificuldade de adotar um compromisso de Lula (por maior que seja a popularidade do presidente) frente a uma esfera global. Difícil, bem difícil de acreditar!
O que proponho como nova forma de diálogo transnacional da questão ambiental não é nenhuma caixa de Pandora. Simplesmente, aceno com aquela velha máxima: se algo não funcionou durante 30 anos, não é agora que vai funcionar, então por que não mudar?
E olha que estou aqui a escrever sobre apenas um ponto de vista, que considera a premissa de que os chefes de estado não configuram uma esfera pública global...
Por que os manifestantes ficam do lado de fora?
Encontros de cúpula não levam a qualquer lugar além da cúpula...
E tome Renato Russo, rindo em seu túmulo...
“Tenho medo de lhe dizer o que eu quero tanto
Tenho medo e eu sei porquê:
Estamos esperando
Quem é o inimigo?
Quem é você?
Nos defendemos tanto tanto sem saber
Porque lutar”
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
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