terça-feira, 19 de junho de 2012

Fragmentos tecnológicos na ação política #3


Castells (2009) traz aportes teóricos importantes para entender as redes de mobilização política e de poder que se configuram com a internet, tais como o poder comunicacional, em especial o poder para criar redes baseadas em programadores e conectores; os processos de autocomunicação de massas, com os quais muitos emissores-receptores se comunicam com outros muitos emissores-receptores com a mediação da internet, alargando as possibilidades de comunicação em relação à mídia; e a ação coletiva em uma sociedade em rede, com especial destaque para os movimentos de contra-poder.
No que diz respeito ao entendimento da internet, trago uma tensão entre duas correntes teóricas, que deixo explícita desde já. De um lado, Manuel Castells (2003) assinala o surgimento de um novo padrão sociotécnico ao considerar que as tecnologias da internet constituem uma base material sobre a qual as pessoas se engajam — e, assim, constroem representações, exercem um trabalho, estabelecem vínculos com outras pessoas, obtém informações, formam opiniões, atuam politicamente, concebem sonhos, procuram um emprego ou profissão, entre outros usos e práticas. De outro, a perspectiva da teoria do ator-rede, desenvolvida por Bruno Latour (2005), chama atenção para a possibilidade de entender as mediações sociotécnicas que estão em jogo com a internet. Neste sentido, este conjunto de tecnologias, práticas e contextos permite estabelecer novas conexões e associações se forem vistas como participantes da composição de um coletivo heterogêneo em um mundo comum. A internet pode acelerar, viabilizar ou facilitar uma ação coletiva, bem como, dependendo da situação, sua ausência pode atrasar, impedir ou dificultar determinadas mobilizações nas sociedades contemporâneas. Assim, uma análise da ação coletiva não deve se concentrar em atores e agentes que agem em contextos específicos, mas nos fluxos contínuos que mobilizam conjuntos compostos por pessoas e objetos que se inter-relacionam, formando um ator-rede.
As reflexões de Castells (2009) permitem vislumbrar uma estrutura em rede, algo como uma matriz sociotécnica que se conforma a partir das novas tecnologias da informação e comunicação, em especial com a difusão da internet, cuja influência pode ser vista como um campo unificado. A teoria do ator-rede chama atenção para as múltiplas possibilidades de agenciamento e construção de atores que surgem em função destas tecnologias, mas que não podem ser, necessariamente, tributadas a uma única matriz, sendo que Latour (2005) propõe seguir as associações, desvendando os mecanismos de formação dos grupos e buscando apreender a emergência de um conjunto heterogêneo de processos de agenciamento, que envolvem não apenas os humanos, mas também objetos materiais que passam a se constituir, também, como agentes, notadamente no ambiente gerado pelo intenso desenvolvimento científico e tecnológico a partir da segunda metade do século XX.

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