terça-feira, 8 de outubro de 2013

Estava andando na rua O meu amor me chamou

sexta-feira, 19 de julho de 2013

pautas

A coletiva q deveria acontecer não é com a cúpula da segurança e sim com o governador, prefeito, secretários de saúde, educação e transporte A PM é cortina de fumaça criada pelo governador. Com isso, ninguém fala na privatização da saúde, no Julio Lopes, na educação, na Delta. CPI dos ônibus, privatização do Maracanã, CPI das viagens do Cabral, crise na saúde publica

sexta-feira, 28 de junho de 2013

multidão e instituições

Ainda que a multidão irrompa baseada em um individualismo em rede, contestando e passando ao largo das organizações e instituições, estas continuam tendo sua importância. E é no vácuo da dispersão da multidão e no balanço provocado que elas podem (re)ocupar, (re)definir e (re)ordenar seus papéis na esfera pública. Não existe fim da história, e a mudança está sempre à espreita para provar que a história continua a ser feita.

Por dentro e por fora dos protestos: um panorama.

Nesta postagem tento reunir algumas impressões sobre as manifestações em que estive presente. O objetivo é abrir debate e não concluir, o que seria muito pretencioso neste momento. Também não prometo grandes novidades. Fui a cinco manifestações no Rio durante o mês de junho, nos dias 10, 14, 17, 20 e 27. Minha pesquisa de doutorado é sobre ativismo e internet e me gerou interesse em apreciar in loco como (e se) a mobilização virtual transborda para o espaço público. Não foi a primeira vez (nem serão as últimas) que participei de manifestações de rua. Lembro das que clamaram o impeachment do Collor em 1992, dentre várias outras que não valem ser destacadas aqui. Mas o que parece ser diferente nas manifestações recentes? Primeiro, o fato de serem mobilizadas inicialmente pelas redes sociais configuradas na internet (em especial o Facebook, mas também Twitter, Whatsapp e Youtube). Segundo, pela maioria constituída por jovens que não estão vinculados à organizações, associações ou partidos. Cabe pensar se este tipo de ação coletiva do que chamo aqui de movimentos da multidão remete mais a um individualismo em rede, onde cada um mobiliza suas redes, do que a organizações que mobilizam seus membros. Chama atenção a ausência de vinculação dos participantes à estruturas organizacionais. E mesmo aqueles que tem vínculos também parecem mobilizar suas redes de contatos utilizando plataformas de tecnologias da internet. Não estou aqui julgando esse lado egóico nem a idéia de individualismo,que pode ser visto como ruim, enquanto o coletivismo seria bom. No entanto, acho que essa dicotomia não ajuda muito no momento em que parece haver mais imbricamento e hibridismo nesta rede de redes, que não está dada, está aberta a escapes e chegadas de quem escolhe participar ou não. A voz da multidão agrega uma série de demandas que estavam represadas. Não vou listar todas aqui, pois não tenho isso sistematizado, mas vale destacar que na primeira manifestação, que tinha menos de mil pessoas, o aumento das passagens era claramente o alvo principal. A partir da segunda, que reuniu cerca de 10 mil pessoas, outras pautas começam a ser incorporadas. Na terceira, a quantidade de pessoas aumentou para mais de 100 mil pessoas e se viu uma explosão das demandas também. Na quarta, 1 milhão de pessoas foram às ruas do Rio, comemorar a redução das passagens, mas sinalizar que não eram apenas R$ 0,20. No quinto ato que fui, hoje, cerca de 10 mil pessoas continuaram a protestar, mas sem o clamor da multidão, em uma manifestação puxada por atores que estão no que pode ser considerado como esquerda, incluindo partidos e sindicatos. No início da semana, na segunda (24/6), houve uma manifestação do que pode ser considerada uma direita, com direito a saudações nazi-fascistas, reunindo cerca de 3 mil pessoas. Nesta não fui. Resta saber onde estão as pessoas que compõem o quadro do milhão que estava nas ruas no dia 20/6. Mas isso é um exercício que talvez o tempo ajude a responder. Estas manifestações trazem elementos para pensar em mudanças no modelo político institucional, mais especificamente na relação com seus representados, que querem mais canais de participação, o que ficou claro quando os protestos começaram a canalizar demandas que vão além do aumento da tarifa de ônibus, que foi revogado, sendo uma importante vitória. Fora isso, dois pronunciamentos da presidenta e uma série de fatos durante esta semana mostram o potencial de ação em uma mobilização em rede. Os canais de representação não estão sendo suficientes para lidar com as demandas de quem representam. O voto ainda é importante, mas cada vez mais, em boa parte em função de um novo contexto de comunicação, que possibilita a participação das pessoas, novos canais de participação nas decisões políticas que afetam a todos (como na configuração de políticas publicas e investimentos) se fazem necessários. Uma coisa que parece ser comum destes protestos com outros recentes ao redor do mundo, tais como a Primavera Árabe, Occupy e Indignados é sua organização e mobilização pela rede, pela internet. E mesmo que pareçam recolhidos, como no caso do Occupy, as pessoas que participaram mantém-se conectadas em rede, prontos a emergir em momentos que sejam propícios no espaço público. No entanto, no caso brasileiro, não surgiu uma plataforma de sustentação e deliberação online, como no Occupy e nos Indiganados, por exemplo, o que pode ser visto como um elemento diferenciador até então, e que talvez reforce até a ideia de que se trata de um individualismo em rede. Além da internet, outro elemento comum com estes outros movimentos está na fraca participação dos partidos e a busca pela abertura de novos canais de participação e representação, nem sempre conseguidos. Cabe destacar que as formas de organização e manifestação sempre passam por mudanças e inovações. Estas formas configuram repertórios de ação coletiva, e parece que a internet traz novas possibilidades, ampliando o repertório de agir coletivamente. Venho pesquisando, por exemplo, a emergência de um repertório digital de ação coletiva, que parece se configurar com o advento da internet. Espero, na tese, apontar sinais disso, ao menos. Por fim, a violência parece ser um componente dos protestos contemporâneos e isso não é de hoje. As forças policiais compõem o cenário de qualquer protesto. No caso brasileiro, temos uma polícia bruta e despreparada para lidar com situações como estas. Além disso, a violência de certa forma acaba sendo um fato político em uma experiência coletiva de conflito, o que faz com que alguns manifestantes também se comportem de forma agressiva. Tem se falado muito da infiltração de agentes entre a multidão, agitando e estimulando grupos de manifestantes mais exaltados e predispostos a agir violentamente. Mas nada justifica as cenas de violência policial que temos visto. Aliás, hoje foi o primeiro ato no Rio em que não houve confronto entre as forças policiais e os manifestantes. Sinal de que pode ser diferente.

domingo, 23 de junho de 2013

Movimentos atuais e apropriação por partidos políticos: análise de Castells


Castells (2012) entende que estes movimentos são raramente programáticos, exceto quando seu foco é uma questão clara e simples quanto derrubar regimes ditatoriais. Os movimentos apresentam múltiplas demandas, todas vindas de cidadãos ávidos para decidir as condições de suas vidas.

No entanto, por serem múltiplas demandas, com motivações ilimitadas, eles não podem formalizar qualquer organização ou líder porque seu consenso, sua união, depende de deliberação e protesto, e não de preencher um programa em torno de objetivos específicos. Trata-se de sua força, pela sua abertura, e sua fraqueza, já que não se pode atingir algo quando os objetivos a serem atingidos estão indefinidos. Além disso, não podem ser cooptados por partidos políticos, ainda que estes possam lucrar com a mudança de mentalidade proposta pelo movimento na opinião pública.

Desta forma, são movimentos sociais que pretendem mudar os valores da sociedade, e eles podem ser movimentos de opinião pública, com consequências eleitorais. Eles pretendem transformar o Estado, mas não se apossar do Estado. Eles expressam sentimentos e agitam debates, mas não criam partidos ou apoiam governos, entretanto podem se tornar alvo de escolhas para marketing político partidário.

Por fim, estes movimentos são políticos em um sentido fundamental, em especial quando eles propõem e praticam a democracia deliberativa, direta, baseada em uma democracia em rede. Eles projetam uma nova utopia: a democracia em rede, baseada em comunidades locais e comunidades virtuais em interação.

Castells (2012) entende que, em sua prática, estes movimentos em rede estão propondo uma nova utopia no coração da cultura de uma sociedade em rede: a autonomia do sujeito frente às instituições da sociedade. Quando estas falham ao gerenciar crises estruturais, a mudança toma corpo fora do sistema mediante uma transformação das relações de poder que começa na mente das pessoas e se desenvolve na forma de redes construídas pelos projetos de novos atores que se constituem como sujeitos de uma história em construção.

E a internet que, como todas as tecnologias, encarna a cultura material, é uma plataforma privilegiada para esta construção social da autonomia.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Participação política, modelos de democracia e a internet

O sujeito da participação política é o público, a cidadania e a esfera civil. Mas quando a atenção se volta para o lócus de tal participação as respostas podem variar, indicando a vida pública, as eleições, a política institucional, os negócios públicos e a decisão política.

Essas variações indicam, em geral, diferentes modelos de democracia: desde modelos mais institucionais, aos quais bastaria, em princípio, a indicação de um déficit de participação civil na vida pública, até modelos de democracia participativa ou direta, que vêem uma crise na baixa efetividade política do cidadão, ou seja, no baixo nível de influência civil na esfera de decisão política.

Considerando estes dois extremos, por exemplo, a uns bastaria que a população votasse e fosse politicamente bem informada enquanto a outros seria necessário que o cidadão tivesse oportunidades de deliberação no que se refere às políticas adotadas pelo Estado.

Desta forma, Gomes (2005) entende que a discussão sobre internet e democracia participativa ganha diversos contornos, com a formação de pelo menos três diferentes tradições.

A primeira delas remete a graus mais moderados de participação democrática e corresponde a maior parte das discussões sobre internet e participação popular a partir do conceito de esfera pública. No seu centro, tem-se um modelo de participação política do cidadão por meio de um debate público relevante, constante e influente, onde se formam a vontade e a opinião públicas, mas onde também seriam constituídos os insumos fundamentais para a produção de uma decisão legítima sobre os negócios públicos pela esfera política.

Em outra tradição, a questão central da democracia concentra-se na decisão política e seu problema principal consiste nas formas de incrementar os níveis de participação civil na decisão referente aos negócios públicos. Este tipo de compreensão remete às discussões sobre internet e participação popular, particularmente na literatura sobre democracia deliberativa. A questão não passa apenas pelo debate público, mas por tornar o sistema e a cultura política liberais mais porosos à esfera civil a ponto de possibilitar a sua interferência na produção da decisão política.

Por fim, em uma terceira tradição, a idéia de participação da cidadania entendida como ocupação civil da esfera política encontra na internet as possibilidades técnicas e ideológicas da realização de um ideal de condução popular e direta dos negócios públicos. Esta perspectiva é sustentada basicamente pelas teorias libertárias da democracia e pela sua versão anárquico-liberal da internet.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Protestos com a internet: o imbricamento sociotécnico


Como entender o papel das novas tecnologias da informação e comunicação, em especial a internet, nas configurações recentes dos protestos que ocorreram em várias cidades brasileiras contra o aumento das passagens de ônibus? Com esta pergunta em mente, neste espaço, vou chamar atenção para alguns pontos que percebo serem abordados de forma periférica e tímida nas análises acerca dos protestos em curso, com o objetivo de contribuir para uma discussão sobre ação coletiva levada a cabo com a internet.

Começo por destacar que vejo a internet como um conjunto de numerosas tecnologias, práticas e contextos que são usadas, entendidas e assimiladas por diversas pessoas em algum lugar em particular. Com isso, ao invés de pensar em uma separação entre o online e o offline, proponho pensar em um imbricamento sociotécnico, tendo em vista a ubiquidade cada vez maior com que as tecnologias da internet participam da vida cotidiana, ainda que exista uma divisão digital.

Ainda que fique incomodado com a visão unificada e simplificada da internet como uma matriz sociotécnica que serve de base para as ações em uma sociedade em rede, pois acredito que existe uma pluralidade de redes com a internet, que são muito mais fluídas e complexas, concordo com Manuel Castells quando ele assinala que os protestos mais recentes, tais como a Primavera Árabe, o Ocuppy Wall Street, os indignados e os protestos que estamos presenciando no contexto brasileiro apresentam uma dinâmica que se inicia em redes da internet, vai para as ruas, volta para a rede, retorna para as ruas e permanece vivo nas redes, ainda que em algum momento não voltem para as ruas.

Neste momento de recolhimento, estes movimentos parecem ter “morrido” porque “não alcançaram os resultados”. No entanto, parece que seus manifestantes se mantém conectados e trocando experiências, esperando o momento adequado para reaparecerem no espaço público. Só o tempo poderá dizer se é isso mesmo, mas o retorno dos manifestantes no Egito contra o regime que se instalou depois da queda de Mubarak parece dar pistas neste sentido.

Esta dinâmica de retroalimentação entre as redes com a internet e as ruas colocam alguns desafios para uma análise da ação coletiva em curso, pois não se trata mais de um movimento social, com suas lideranças claramente definidas e uma pauta de reivindicações para negociar com os governos. Isso faz com que alguns analistas não consigam ver as práticas que estão em jogo nos contextos em que acontecem, ficando mais preocupados em enquadrá-las em modelos formatados para uma época em que a internet não estava tão difundida quanto hoje em dia. Vale destacar que a ideia de um imbricamento sociotécnico abre possibilidades analíticas que vão além de um mero determinismo tecnológico.

Outro desafio que afirma a importância das tecnologias da internet é o caráter descentralizado, multicêntrico e sem lideranças formais, que não é uma novidade destes movimentos. Afinal, pelo menos desde os protestos anti-globalização, que tiveram seu marco em Seattle no ano de 1999, e talvez desde o levante zapatista, em 1994, estas características já se faziam presentes. Uma diferença são as mudanças na internet. Tanto em 1994, quanto em 1999, a comunicação pela rede se fazia basicamente por listas de discussão e troca de e-mails, enquanto hoje em dia esta comunicação se dá com Facebook, Youtube, Twitter e Whatsapp, bem como com os telefones celulares cada vez mais conectados. Essa mudança tornou a capacidade de mobilização muito mais rápida e voltada para as redes de contatos pessoais dos manifestantes, enquanto em 1999 eram as organizações que capitaneavam os processos.

Bem, essas são algumas reflexões, tendo em vista que os protestos ainda estão acontecendo e parece que, no caso brasileiro, vão acompanhar os mega-eventos programados. Mas vale também atentar que este imbricamento sociotécnico não se verifica apenas do lado de quem se indigna e se manifesta. O aparato de repressão e investigação também faz uso dele. Tanto que nas manifestações que fui pude perceber vários policiais filmando os atos com telefones celulares. Certamente não era para postar em sites de redes sociais.


Por fim, um aspecto sintomático da importância das tecnologias da internet pode ser vista mediante a atitude das polícias de confiscar telefones celulares dos manifestantes ou de procurar suspeitos em sites de redes sociais. Ao apreender os celulares, o aparato policial tenta separar o “sócio” do “técnico”, desfazendo a possibilidade de compartilhamento das imagens com as redes de contatos dos manifestantes. Neste sentido, cada vez mais, o celular é uma arma quente dos manifestantes, que encontra seus alvos nas redes que se configuram com a internet, onde se faz possível a propagação da comoção e da esperança de novos engajamentos na ação coletiva, em especial mediante a violência policial que tem sido empregada contra os protestos nas ruas.