O que faz uma pessoa ser "interessante"?
É claro que isso depende dos olhos de cada observador, mas alguns requisitos são quase universais. A pessoa interessante é aquela cujo "repertório" se renova continuamente. Ou seja, que sempre tem novas idéias e pontos de vista atualizados. As pessoas interessantes sentem genuíno prazer em aprender. Isso implica um cérebro "poroso" que permite a entrada de novos pontos de vista.
São mais interessantes aquelas pessoas discretas e um tanto enigmáticas: as que falam pouco de si e que se deixam conhecer mais lentamente. As conversas com pessoas que se reciclam continuamente são ricas e surpreendentes. O interesse em estar com elas é permanente e não há tédio.
São interessantes as pessoas bem humoradas e de humor estável. Elas estão de bem com a vida apesar de conhecerem suas agruras e sofrimentos. Pessoas interessantes sabem que viver é uma empreitada difícil para todo o mundo. Assim, não julgam ou criticam as pessoas de modo leviano.
São interessantes os que agem com certa autonomia, não respeitando as normas seguidas por "todo o mundo". A ousadia instiga a curiosidade!
Não deixa de ser curioso constatar que aquelas pessoas que "se acham" e costumam rebaixar seus parceiros são justamente as mais ciumentas. Algumas pessoas inseguras tratam de rebaixar seus parceiros como estratégia: aí eles ficariam sem auto-estima suficiente para abandoná-los! Os que se empenham tanto em diminuir seus parceiros devem ter por eles enorme consideração! Isso explicaria porque manifestam tanto ciúme.
Todos temos nossas inseguranças, dúvidas acerca de quanto valemos. Porém, há muitas maneiras de agir que não a de denegrir nossos parceiros. Impossível não nos sentirmos inseguros frente a certas situações. Podemos escondê-la com "estratégias" ou aceitá-la com classe e dignidade.
Agir com dignidade diante da insegurança que sentimos em relação à admiração que despertamos no parceiro implica tolerar o risco de perdê-lo. Agir com dignidade diante do ciúme e das inseguranças sentimentais é "apenas" um exemplo de como convém se posicionar diante das incertezas!
Talvez devamos chamar de dignidade à postura serena que nos cabe diante das situações da vida sobre as quais não temos direito de interferir. Agir com dignidade diante dos riscos sentimentais é não tomar qualquer atitude que restrinja a liberdade do parceiro, custe o quanto custar.
O ciúme é uma das emoções mais difíceis de serem controladas mesmo que sejamos criaturas determinadas e seja essa nossa disposição racional. Para o ciúme, assim como para tantas outros conflitos entre razão e emoções, não existe solução definitiva. O que existe é "administração"!
Muitas pessoas tratam as relações afetivas como transitórias, descartáveis. Eu me pergunto: o que é preciso fazer para que sejam duradouras?
O principal ingrediente das relações duradouras é que elas são fundamentadas nas afinidades, especialmente no que diz respeito ao caráter. Afora a questão escolha do parceiro, temos que pensar bem no que se pode esperar do amor: junto do amado, nos sentimos aconchegados, em paz.
Quem espera que o amor seja o sentimento que irá proporcionar emoções fortes, aventuras sensacionais, será tomados por grande frustração! O cuidado principal para os que pretendem construir elos duradouros reside na escolha do parceiro: é melhor pensar que as pessoas não mudam!
As historias de amor só são emocionantes enquanto elas não se consumam em função dos obstáculos externos. Depois do final feliz, vem a paz. Os parceiros que entendem que o amor é o que os une e fortalece buscam, juntos ou individualmente, os prazeres das aventuras no lugar certo!
Parceiro bem escolhido, consciência do que se pode esperar do amor, respeito pelas diferenças: eis a base para ser feliz no amor para sempre.
É preciso cuidado com as profecias que se auto-realizam: quando se pensa que o amor "é eterno enquanto dura", é isso que acaba acontecendo! Um relacionamento amoroso estável, de boa qualidade e duradouro também passa por momentos difíceis. Isso não é sinal de que o amor terminou.
Ao longo de décadas de convívio, o amor irá variar na intensidade. O sentimento é como a cotação de uma ação: umas vezes cai e outras sobe! Uma causa de desgaste nas relações de qualidade (sempre entre pessoas honestas) é a diferença de opinião em relação a algum assunto sério.
As divergências devem ser tratadas com delicadeza. Gente hojesta não muda de opinião facilmente (e nem devem). É preciso aprender a negociar. Divergência de opinião não pode ser tratada como ofensa grave: pessoas imaturas se sentem traídas quando suas idéias não são compartilhadas. As divergências desgastam momentaneamente, mas é mancha que lavando desaparece. Restabelecida a harmonia, a plenitude sentimental reaparece.
Cuidado com as pessoas muito agradáveis e simpáticas, aquelas que nos cativam rapidamente: é fácil confiar nelas. Nem sempre são sinceras. A pessoa cativante e de caráter duvidoso irá se mostrar como amiga dedicada e leal. Só aos poucos surgirá sua verdadeira face interesseira.
Depois de termos sido plenamente seduzidos é que surgirá a verdadeira intenção desses falsos amigos (ou namorados): levar alguma vantagem! A dor que se experimenta por força da deslealdade de alguém que conquistou nossa confiança é das maiores. Nos sentimos enganados, traídos. Ao sermos enganados por alguém que não conquistou toda nossa confiança, a dor que sentimos é menor: a traição já era uma das possibilidades!
As pessoas do bem cometem sempre esse grave engano: usar a si como base para avaliar todos os outros. Boa parte deles tem segundas intenções. Para evitar equívocos derivados da ingenuidade convém não confiarmos tanto na primeira impressão que temos daqueles que acabamos de conhecer.
* Flávio Gikovate é um psiquiatra que sigo no Twitter (@Flavio_Gikovate). Este post é uma compilação simples, do tipo copia e colagem, dos tweets que ele postou entre os dias 3/6 e 10/6 (12:02). Trata-se apenas de um ponto de vista de um psiquiatra, que acho interessante para pensar nas relações, em especial nas amorosas, ainda mais na véspera do Valentine's Day brasileiro...
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Um comentário:
Sempre admirei o Gikovate. Agora, mais ainda!
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