Como entender o papel das novas tecnologias da informação e
comunicação, em especial a internet, nas configurações recentes dos protestos
que ocorreram em várias cidades brasileiras contra o aumento das passagens de
ônibus? Com esta pergunta em mente, neste espaço, vou chamar atenção para
alguns pontos que percebo serem abordados de forma periférica e tímida nas
análises acerca dos protestos em curso, com o objetivo de contribuir para uma
discussão sobre ação coletiva levada a cabo com a internet.
Começo por destacar que vejo a internet
como um conjunto de numerosas tecnologias, práticas e contextos que são usadas,
entendidas e assimiladas por diversas pessoas em algum lugar em particular. Com
isso, ao invés de pensar em uma separação entre o online e o offline, proponho
pensar em um imbricamento sociotécnico, tendo em vista a ubiquidade cada vez
maior com que as tecnologias da internet participam da vida cotidiana, ainda
que exista uma divisão digital.
Ainda que fique incomodado com a visão
unificada e simplificada da internet como uma matriz sociotécnica que serve de
base para as ações em uma sociedade em rede, pois acredito que existe uma
pluralidade de redes com a internet, que são muito mais fluídas e complexas,
concordo com Manuel Castells quando ele assinala que os protestos mais
recentes, tais como a Primavera Árabe, o Ocuppy Wall Street, os indignados e os
protestos que estamos presenciando no contexto brasileiro apresentam uma
dinâmica que se inicia em redes da internet, vai para as ruas, volta para a
rede, retorna para as ruas e permanece vivo nas redes, ainda que em algum
momento não voltem para as ruas.
Neste momento de recolhimento, estes movimentos parecem ter “morrido”
porque “não alcançaram os resultados”. No entanto, parece que seus
manifestantes se mantém conectados e trocando experiências, esperando o momento
adequado para reaparecerem no espaço público. Só o tempo poderá dizer se é isso
mesmo, mas o retorno dos manifestantes no Egito contra o regime que se instalou
depois da queda de Mubarak parece dar pistas neste sentido.
Esta dinâmica de retroalimentação entre as redes com a internet e as
ruas colocam alguns desafios para uma análise da ação coletiva em curso, pois
não se trata mais de um movimento social, com suas lideranças claramente
definidas e uma pauta de reivindicações para negociar com os governos. Isso faz
com que alguns analistas não consigam ver as práticas que estão em jogo nos
contextos em que acontecem, ficando mais preocupados em enquadrá-las em modelos
formatados para uma época em que a internet não estava tão difundida quanto
hoje em dia. Vale destacar que a ideia de um imbricamento sociotécnico abre possibilidades
analíticas que vão além de um mero determinismo tecnológico.
Outro desafio que afirma a importância das tecnologias da internet
é o caráter descentralizado, multicêntrico e sem lideranças formais, que não é
uma novidade destes movimentos. Afinal, pelo menos desde os protestos
anti-globalização, que tiveram seu marco em Seattle no ano de 1999, e talvez
desde o levante zapatista, em 1994, estas características já se faziam presentes.
Uma diferença são as mudanças na internet. Tanto em 1994, quanto em 1999, a
comunicação pela rede se fazia basicamente por listas de discussão e troca de
e-mails, enquanto hoje em dia esta comunicação se dá com Facebook, Youtube,
Twitter e Whatsapp, bem como com os telefones celulares cada vez mais
conectados. Essa mudança tornou a capacidade de mobilização muito mais rápida e
voltada para as redes de contatos pessoais dos manifestantes, enquanto em 1999
eram as organizações que capitaneavam os processos.
Bem, essas são algumas reflexões, tendo em vista que os protestos
ainda estão acontecendo e parece que, no caso brasileiro, vão acompanhar os
mega-eventos programados. Mas vale também atentar que este imbricamento sociotécnico
não se verifica apenas do lado de quem se indigna e se manifesta. O aparato de
repressão e investigação também faz uso dele. Tanto que nas manifestações que
fui pude perceber vários policiais filmando os atos com telefones celulares.
Certamente não era para postar em sites de redes sociais.
Por fim, um aspecto sintomático da importância das tecnologias da
internet pode ser vista mediante a atitude das polícias de confiscar telefones
celulares dos manifestantes ou de procurar suspeitos em sites de redes sociais.
Ao apreender os celulares, o aparato policial tenta separar o “sócio” do “técnico”,
desfazendo a possibilidade de compartilhamento das imagens com as redes de
contatos dos manifestantes. Neste sentido, cada vez mais, o celular é uma arma
quente dos manifestantes, que encontra seus alvos nas redes que se configuram
com a internet, onde se faz possível a propagação da comoção e da esperança de
novos engajamentos na ação coletiva, em especial mediante a violência policial
que tem sido empregada contra os protestos nas ruas.
3 comentários:
Ótima análise, Colibri!. Faco entretanto uma pergunta sobre o possível desenrolar das manifestacoes: Como modificar realmente alguma coisa sem um programa (a palavra nao é boa) determinado, ou melhor, como se muda algo apenas com idéias e vontades (ou seriam insatisfacoes?) difusas?
Quando a poeira baixar e o movimento se ausentar (talvez temporariamente) do espaco público e permanecer apenas no virtual (como você bem disse) alguém vai ter que apresentar algo concreto para negociar com as instituicoes. Esse foi o problema no Egito: quem passou a dar as cartas foi a irmandade mulcumana que já tinha um ideário muito bem estruturado. Esse movimento nao pode ser apenas um desabafo momentâneo (como pareceu ser os movimentos "Occupies") e depois que todo mundo tiver gritado nas ruas, liberando o estresse, voltam para o computador para continuar gritando no twitter, etc. Os movimentos "Occupies" (em português, aliás, dá ótimass palavras ocupais ou ocupai! :-) nao só parecem ter morrido, como os governos do G8 muito pouco fizeram do que foi "pedido" em relacao ao mercado financeiro...
Oi Douglas, desculpe a demora em responder. Só vi seu comentário agora. Acho que você chama atenção para um ponto importante, passada a multidão são as organizações que ocupam o vácuo deixado. E se apropriam da força da multidão, já que não vejo como um movimento social. De certa forma, conseguimos reverter o aumento das passagens, conquista essa que chamou inúmeras pautas. Estas pautas serão apropriadas de diferentes formas por diferentes organizações, é o que acho.
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